Realizador: David Lynch Argumento: David Lynch Fotografia: Frederick Elmes Música: Angelo Badalametti Intérpretes: Kyle MacLachlan, Isabella Rossellini, Laura Dern, Denis Hopper, Dean Stockwell
David Lynch escava a encantadora superfície da América suburbana e descobre a corrupção, o crime e a perversão. A pequena cidade com os seus descapotáveis e as suas casas representa a América idílica da era Reagan e mesmo a escolha de Kyle MacLachlan e Laura Dern para protagonistas vai ao encontro dessa vontade de recuperar à superfície a imagem saudável dos anos 50. A partir do momento em que a câmara de Lynch mostra um formigueiro em actividade e uma orelha decepada, o filme entra nos domínios do grotesco e do sórdido. Blue Velvet é, seguramente, a obra-prima de Lynch e conta com interpretações superlativas de Dennis Hopper,como o psicopata viciado em éter Frank Booth, Isabella Rossellini, na cantora lounge vítima, mas cheia de sensualidade e finalmente Dean Stockwell. Blue Velvet é um filme genial, que influenciou enormemente a cultura popular dos finais do Séc. XX.
A Última Tentação de Cristo, EUA 1988 Duração: 163 minutos
Realizador: Martin Scorsese Argumento: Paul Schrader, baseado no livro de Nikos Kazastzakis Fotografia: Affonso Beato Música: Peter Gabriel Intérpretes: Willem Dafoe, Harvey Keitel, Barbara Hershey...
A visão de Scorsese de um Cristo Humano e como tal sujeito a dúvidas, medos e tentações, embora heterodoxa não deixa de ser uma profunda e sincera afirmação de fé. Esta extraordinária adaptação do livro de Nikos Kazastzakis provocou uma enorme controvérsia entre os fundamentalistas cristão, tendo chegado a boicotar a sua exibição e levado algumas cadeias de lojas de vídeo a recusar a sua presença nos escaparates. Com uma fotografia belíssima de Michael Ballhaus e extraordinárias interpretações, este é um filme que suscita a reflexão e não o exercício provocatório que os zelotas da ortodoxia tentaram fazer crer que era. Um filme indispensável.
Realizador: Terry Zwigoff Argumento: Daniel Clowes Fotografia: Affonso Beato Música: Krzysztof Komeda Intérpretes: Thora Birch, Scarlett Johansson, Steve Buscemi...
"Um daqueles filmes que passou injustamente despercebido em 2002, "Ghost World - Mundo Fantasma" destacou-se, contudo, como um dos mais surpreendentes desse ano, tornando-se instantaneamente numa obra de culto. Embora seja um filme norte-americano sobre adolescentes, não cai no caminho mais óbvio e convencional das piadas fáceis e referências a sexo de 2 em 2 minutos, recusando igualmente personagens baseadas em estafados clichés.
Adaptando para a sétima arte a obra de banda-desenhada homónima de Daniel Clowes - um dos mais estimáveis autores underground norte-americanos -, Terry Zwigoff apresenta um filme que diverge em tudo da lógica dos tradicionais comics de super-heróis que têm marcado grande parte da produção cinematográfica recente made in USA. Aqui não há efeitos especiais impressionantes nem intrépidos protagonistas, mas um universo minimalista povoado por gente normal que vive um quotidiano melancólico e pouco reluzente. Assim, foca-se aqui a alienação, o consumismo ou as (sub)culturas urbanas vistas pela óptica de duas adolescentes desalinhadas.
Enid (Thora Birch, de “Beleza Americana”) é uma jovem inteligente e criativa que, ao terminar o liceu, questiona quais as perspectivas para o seu futuro e os rumos a seguir numa nova fase da sua vida. Acompanhada pela sua melhor (e única?) amiga Rebecca (Scarlett Johansson, antes do boom de "Lost in Translation - O Amor é um Lugar Estranho"), Enid vive um tenso processo de crescimento onde a chegada da idade adulta está cada vez mais próxima, trazendo uma carga de responsabilidades e escolhas que devem ser feitas. As duas amigas, quase sempre afastadas dos colegas, nunca estiveram muito interessadas em integrar-se, mas pela primeira vez apercebem-se de que talvez devam - ou terão de - fazê-lo. Valerá a pena? E qual o preço a pagar pela integração?
Terry Zwigoff combina eficazmente drama e comédia, tornando "Ghost World - Mundo Fantasma" numa obra que segue a melhor tradição das dramedies características de domínios do cinema "indie". Irónico e sarcástico sem deixar de ser genuíno e emotivo, o filme é um intenso retrato da realidade mundana e monótona dos subúrbios, onde jovens outcasts isolados lidam com o desencanto de ambientes vincados pela inércia. A espaços, surge por aqui o humor ácido próximo da série de animação "Daria", da MTV, embora a película de Zwigoff seja mais profunda e intimista.
O ritmo da narrativa é, por vezes, demasiado lento e arrastado, mas acompanha bem os cenários de monotonia e tédio que envolvem as personagens, dotando o filme de um realismo simultaneamente envolvente e claustrofóbico. "Ghost World - Mundo Fantasma" é um incomum olhar sobre os nerds e os falhados que, apesar do seu potencial, acabam por ser sempre ignorados ou desprezados e, por isso, são quase invisíveis, como fantasmas. Com uma vida social quase nula, tornam-se gradualmente incapazes de estabelecer laços e relações com os que os rodeiam, habitando áridas esferas de solidão. Enid, mais do que Rebecca, incorpora esses elementos, e quando tenta aproximar-se de alguém apercebe-se de que é usada e magoada.
Um dos mais entusiasmantes e memoráveis filmes norte-americanos recentes, "Ghost World - Mundo Fantasma" é uma discreta pérola que expõe com sensibilidade e alguma crueza a vertente angustiante, dolorosa e solitária do processo de crescimento, juntando-se a títulos igualmente recomendáveis como "Donnie Darko" de Richard Kelly, "L.I.E." de Michael Cuesta, "Elephant" de Gus Van Sant ou "SubUrbia", de Richard Linklater."
Realizador: Roman Polanski Argumento: Roman Polanski, baseado no livro de Ira Levin Fotografia: William A. Fraker Música: Krzysztof Komeda Intérpretes: Mia Farrow, Joh Cassavetes, Ruth Gordon, Sidney Blackmer, Ralph Bellamy
Soberba adaptação do best-seller de Ira Levin, "A Semente do Diabo" tornou-se um clássico, graças à inteligência de Polanski, que soube manter o filme dentro dos parâmetros do realismo, sem cair em excessos góticos e tácticas de choque tão típicas dos filmes de terror. Subtileza é a palavra-chave deste filme genialmente concebido e interpretado. Ruth Gordon e Sidney Blackmer, o velho casal excêntrico têm aqui grandes criações. Um personagem fundamental do filme é o velho edifício em Manhattan, na verdade o edifício "Dakota", lugar onde se deu o assassinato de John Lennon, em 1980. "A Semente do Diabo" é o mais inteligente e provavelmente o melhor filme de terror dos anos sessenta.
Pânico em Needle Park, EUA 1971 Duração: 105 minutos
Realizador: Jerry Schatzberg Argumento: Joan Didion e John Gregory Dunne, baseado no livro de James Mills Fotografia: Adam Holender Intérpretes: Al Pacino, Kitty Winn, Alan Vint, Richard Bright, Kiel Martin, Raul Julia
Pânico em Needle Park mostra o lado escuro da cultura da droga de finais dos anos 60. O filme retrata, de uma forma realista e crua, o mundo dos junkies nova-iorquinos e desmistifica de uma maneira brutal a falácia da chamada “cultura da heroína”. A sua autenticidade - foi filmado nos locais que serviram de inspiração para o livro no qual o filme se baseia -, e o realismo de algumas cenas explícitas provocaram bastante controvérsia na época da sua estreia. Um filme brilhante de um grande cineasta com soberbas interpretações de Kitty Winn e Al Pacino que aqui tem o seu primeiro papel de protagonista.
O Cineclube de Cinema e Vídeo Oito e Meio inicia a sua programação regular do corrente ano lectivo com uma série de filmes seleccionados pelo Professor Cardona. Semanalmente daremos aqui entrada à informação acerca de cada uma das sessões, abertas aos vossos comentários. As sessões regulares decorrerão, este ano, às terça-feiras (10H50) e quarta-feiras (14H15), no Auditório da Escola Secundária Eça de Queirós. A entrada é livre.