O SÉTIMO SELO
Det Sjunde Inseglet
Ingmar Bergman
Suécia, 1957
Terça-Feira, 29 de Janeiro: 10H50
Quarta-Feira, 30 de Janeiro: 15H15
Auditório da ESEQ
Entrada Livre (e a liberdade é bonita)

Mas é também o filme do céu e do silêncio, o céu e o silêncio dos planos que abrem e fecham o filme em rima. “E quando ele abriu o sétimo selo, fez-se silêncio no céu durante meia-hora” é a citação do Apocalipse que acompanha esses planos (e “explica” o título do filme). Como qualquer filme de Bergman, Det Sjunde Inseglet desafiou e continua a desafiar todas as exegeses e todos os exegetas, mas neste caso a profusão de alusões e evocações de temas e figuras cristãs (coisa que, obviamente, não é única nem exclusiva no contexto da filmografia bergmaniana) torna o debate sobre Det Sjunde Inseglet um dos mais complexos na obra de Bergman. Que se passa verdadeiramente nesta estrutura circular que vai de céu a céu? Que se passa bem entendido para além da alegoria? Que olhar sobre a vida e sobre a morte, mas mais ainda sobre o “além-morte”, propõe o filme? Det Sjunde Inseglet é um filme que tende para o mais grave dos desesperos ou para a mais pacífica das resignações?
Ao longo dos anos, os comentadores têm encontrado respostas de todo o tipo. O próprio Bergman referiu que o filme o ajudou a ultrapassar a angústia perante a morte, falando dele como uma “superação”. Anos mais tarde, descreveu assim a sua posição: “Tinha medo daquele enorme vazio, mas a minha opinião pessoal é que quando morremos, morremos, e passamos de um estado de existência (“a state of something”) para um estado de absoluto nada (“a state of absolute nothingness”); e não acredito nem por um segundo que haja alguma coisa acima ou para além, ou como se queira dizer; e isso enche-me de segurança”. Não se pode deixar de associar a estas palavras de Bergman um dos mais terríficos diálogos de Det Sjunde Inseglet, quando von Sydow confessa a um monge (que é a “Morte”disfarçada) que “grita por Deus mas às vezes parece que não está lá ninguém”. A Morte responde que isso (não estar lá ninguém) é uma possibilidade, e von Sydow desabafa: “Se isso for verdade, então toda a vida é um horror sem sentido”. Mas no filme não há propriamente uma resposta a essa dúvida (e nem a Morte, que é apenas “a morte”, pode dizer alguma coisa sobre o que se passa depois dela): Det Sjunde Inseglet não é um filme sobre nenhuma espécie de “além”, mas, como nesse mesmo diálogo a personagem de von Sydow também indica, sobre a vida e sobre a condenação em vida à terrificante angústia sobre esse “além” ou seja, sobre a vida debaixo do “silêncio do céu”, esse céu que como dissemos baliza o princípio e o fim do filme.(...)
Mas talvez seja mais simples do que isso, e talvez seja a própria “simplicidade” da vivência dos saltimbancos a configurar uma resposta à possibilidade de uma existência “para cá” da morte assim se opondo ao “horror sem sentido” dos temores de von Sydow, expressão de uma vida incapaz de se desprender da morte. Não “o céu”, mas “a terra”: como se a mais bela (e mais “religiosa”) cena de Det Sjunde Inseglet fosse aquela em que todos partilham o leite e os morangos.
Luis Miguel Oliveira,
Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema