16.2.09

Fevereiro 2009 - Noite de Culto



O Clube de Cinema 8 e Meio apresenta:
NOITE DE CULTO

GRIZZLY MAN, de Werner Herzog
Sexta-feira, 20 de Fevereiro - 21H30
Auditório da ESEQ
Entrada Livre




Documentário sobre a vida e a morte de Timothy Treadwell, ecologista e pesquisador de ursos pardos. Por 13 verões consecutivos, Treadwell foi para o Alasca viver desarmado entre esses animais. Em outubro de 2003, os restos mortais de Treadwell e de sua namorada Amie Huguenard foram encontrados pelo amigo e piloto que deveriam trazê-los de volta. O casal fora devorado por um urso, o primeiro caso registrado de ataque no Parque Nacional e Reserva Katmai, na península do Alasca. Nos últimos cinco anos, Treadwell documentou sua viagem com uma câmera e produziu mais de cem horas de filme. Esse material foi utilizado por Herzog para explorar sua personalidade e levantar questões sobre a difícil relação entre homem e natureza.

3.2.09

Fevereiro: As aventuras de Antoine Doinel

François Truffaut foi um contador de histórias compulsivo, dos que pertencem à linhagem da Xerazade das "Mil e uma noites": também ele contava histórias para estar vivo, para viver. As histórias contadas pelo cinema eram, para ele, uma forma de paixão pela vida. E quando não as contava ele, dava a outros a possibilidade de as contarem, como fez na sua produtora "Les films du Carrosse".
Este traço, que o liga, antes de mais, à tradição de um "cinema narrativo" e aos clássicos americanos - que ele apresentou à Europa - mas também a Vigo, Renoir e Rossellini, ajuda a estabelecer o diferendo, legível sobretudo depois de 1968, entre ele e Godard: Truffaut nunca quis abdicar de um cinema de autor que cultivasse uma relação forte com os seus públicos (dois objectivos que, mais tarde, se separaram, precipitando uma crise persistente do cinema europeu); Godard tornou-se num cineasta "de vanguarda" (quer ele quer Truffaut são do tempo em que havia "vanguardas", coisas que se extinguiram no final dos anos 70 ou sucumbiram a comas incomunicáveis na década seguinte) e durante muitos anos voltou as costas aos públicos.
Seria interessante analisar por que é que as vanguardas do séc. XX estiveram ligadas a certa ideia do "fim da História", à angústia da "última obra" (o último quadro, a última sinfonia, o último filme) e por que não sobreviveram ao declínio das ideologias e das militâncias. Mas ficará para outra vez: aqui tratamos apenas de Truffaut, autor ecléctico que a recepção geralmente subvalorizou. Tornou-se um lugar-comum ver Truffaut como um amável herdeiro de uma tradição que cultiva o "plot" (no sentido de enredo) e Godard como um desconstrutor da narrativa, brechtiano e militante. Como se fosse possível separar dois enfoques do cinema que sempre se cruzaram - o narrativo e o conceptual. É, até, do cruzamento de ambos que emerge a poética cinematográfica.
Ainda hoje, Truffaut e Godard são percepcionados pelas escolas e pela antiga crítica como os pólos divergentes da "Nouvelle Vague", embora irmãos na sua origem - a geração crítica dos "Cahiers du Cinéma" da segunda metade dos anos 50, farta do convencional cinema de estúdio, fascinada pelo surgimento de dispositivos de filmagem e captação de som mais leves, e desejosa de um cinema da rua. Como o próprio Godard disse: "a Nouvelle Vague redefine as relações entre realidade e ficção".
(...)
É diferente o caso da série Antoine Doinel. Tem um prefácio (a curta "Les Mistons", de 1957), uma abertura genial e autónoma ("Os Quatrocentos Golpes"), um pequeno relançamento ("Antoine et Colette", de 1962, "sketch" do filme colectivo "L"amour à 20 ans") e depois três desenvolvimentos que acompanham a vida de Léaud-Doinel, ficcionada junto de Christine (Claude Jade): "Beijos Roubados" (1968), "Domicílio conjugal" (1970) e "O Amor em Fuga" (1979). Estes três últimos são melodramas urbanos carregados de humor e de ternura, em torno da instituição "casal jovem", que antecipam projectos como os recentes "Antes do amanhecer" e "Antes de anoitecer" de Richard Linklater, ou, noutro registo, a recuperação actual, com "Saraband", das "Cenas da Vida Conjugal" de e por Bergman. O projecto de acompanhar personagens, ao longo de anos, através dos actores que as representam e que, como elas, também envelhecem, contando, com eles, "histórias de vidas", tem, assim, o seu momento inaugural com a série Doinel.
Parcialmente autobiográficos, ora narcísicos e auto-complacentes ora sinceros no encantamento e no desencanto amoroso, os filmes da série exprimem a ligação de Truffaut à vida a partir dos mil gestos quotidianos e das "pequenas percepções". São exercícios, comunicativos e subtis, sobre a paixão e a rotina, seus desequilíbrios e reequilíbrios. Só por cegueira cultural ou por perda de contacto com os afectos é possível ver neles o trabalho menor de um cineasta "lamechas", como por vezes aconteceu.

João Maria Mendes (Professor no Departamento de Cinema da Escola Superior de Teatro e Cinema), PÚBLICO


OS QUATROCENTOS GOLPES
François Truffaut, 1959

2.ª feira, 2 de Fevereiro, às 10h05
5.ª feira, 5 de Fevereiro, às 13h30

Antoine Doinel tem catorze anos. Na escola, não pára e arranja problemas com a professora que o castiga por ter escrito nas paredes da sala de aula. Em casa, os pais são indiferentes à sua presença e não sabem o que fazer com ele durante as férias. Antoine faz gazeta à escola com o colega René e surpreeende a mãe nos braços do seu amante. A vida do jovem Antoine parece que será vivida sob o signo da mentira e do desenrasque.