3.5.11

8 e MAIO.DOC | ciclo de cinema documental



Não foi nossa intenção, ao dar o título de ciclo de cinema documental a esta mostra de filmes, sugerir que por aqui passa toda a história do documentário. Pelo contrário, num breve exame autocrítico, descobrimos falhas ao nível da representatividade, resultantes justamente da ausência neste ciclo de alguns dos nomes seminais do género (Jean Rouch ou Frederick Wiseman, para citarmos, e de memória, apenas dois). Temos no entanto a certeza, que por estes (nove) filmes escolhidos passa alguma da mais enérgica, ousada e esclarecida análise social praticada no século passado. Num mundo contemporâneo imerso numa caótica selva de imagens à deriva, sabe bem saborear esta prática disciplinadora do olhar, que o género documental tão bem soube interpretar, esperando que os nossos alunos tirem partido destes filmes feitos aula, ou destas aulas feitas filmes, como queiram. O mundo contemporâneo move-se a uma velocidade de tal forma alucinante, que a melhor maneira de nos precavermos contra estes movimentos contínuos e arrasadores, que tudo parecem contaminar à passagem, é estarmos atentos às movimentações históricas, munindo-nos de uma inteligência crítica que nos permita ler nos factos passados os indícios do nosso futuro colectivo… E neste particular, os filmes que compõem esta selecção são admiravelmente instrutivos!

O Clube de Cinema 8 e Meio

Terça-Feira, 3 de Maio, 13H30

ROBERT J. FLAHERTY

Nanook o esquimó “Nanook of the north” (1922) 79 minutos

Este filme clássico realizado por Robert Flatherty, rodado em 1922, documenta um ano na vida de Nanook, um caçador esquimó e a sua família, à medida que lutam para sobreviver nas condições agrestes de Hudson Bay, no Canadá. Apenas com imagens, sem diálogos, este documentário mostra o comércio, a caça, a pesca e as migrações de um grupo praticamente intocado pela tecnologia industrial.


Terça-Feira, 10 de Maio, 13H30

DZIGA VERTOV

O homem da câmara de filmar " Man with a Movie Camera" (1929) 67 minutos

Este é um dos filmes mais extraordinários da história do cinema. Com uma divertida montagem, este filme mostra-nos o povo de Moscovo nos seus locais de trabalho e a maquinaria que mantém a cidade em movimento. Vertov é o pioneiro na utilização de todas as técnicas cinematográficas disponíveis - dissolves, split screen, slow motion e freeze frames.


Terça-Feira, 17 de Maio, 13H30

ALAIN RESNAIS

Toda a memória do mundo "Toute la mémoire du monde" (1956) 22 minutos

«Certa vez, mais tarde, vi numa curta-metragem a preto e branco sobre a vida da Bibliothèque Nationale como as mensagens circulavam a grande velocidade por correio pneumático entre as salas de leitura e as estantes ao longo do que poderia chamar-se um circuito nervoso e como a comunidade de investigadores ligados ao aparelho da biblioteca forma um ser extremamente complexo em constante evolução que se alimenta de miríades de palavras e gera por seu turno miríades de palavras. Creio que esse filme, que vi apenas uma vez mas que na minha imaginação se foi tornando mais fantástico e assombroso, tem o título Toute la mémoire du monde e foi feito por Alain Resnais.»

José Mário Silva

Noite e Nevoeiro “Nuit et Brouillard (1955) 32 minutos

«O filme foi encomendado em Maio de 1955 pela Comissão de História da Segunda Guerra Mundial e terminado em Dezembro do mesmo ano. Foi projectado no festival de Berlim, extra - concurso. Eu não ousava fazer o filme, pois nunca fui deportado. Jean Cayrol, antigo deportado, concordou em colaborar comigo. O argumento foi escrito antes da partida para a Polónia e modificado lá. Da Alemanha apenas recebi cartas amáveis. Nos arquivos do serviço Cinematográfico do Exército Francês, consegui apenas encontrar dois planos que me interessavam mas não me deixaram utilizá-los: «tendo em conta o carácter do filme». Após a C.E.D. celebrou-se um acordo internacional visando pôr termo às comunicações a propósito dos campos.»

Alain Resnais, Premier Plan n.° 18/56


Terça-Feira, 24 de Maio, 13H30

ARTAVAZD PELECHIAN

Os Habitantes “Bnakitcher” (1970) 10 minutos

As Estações “Yeghnaknere” (1972) 29 minutos

Fim “Kiank” (1992) 9 minutos

Vida “Armienfilhem” (1993) 6 minutos

Pelechian é de facto um cineasta único, único pela forma como encena os seus filmes, pela linguagem cinematográfica que utiliza e pela forma como nos revela o mundo. Os seus filmes são mais facilmente sentidos que contados porque os emoção é o núcleo de cada um deles e é essencialmente através da Imagem e do Som que esta emoção é veiculada, pois Pelechian considera-os indissociáveis. O movimento e a música têm claramente uma importância fulcral. São, de facto, estes os elementos que ritmam as suas obras. Os seus trabalhos centram-se no homem e na sua relação íntima e indestrutível com a natureza. Para ele, a Natureza é o laço que une todos seres. Os filmes de Pelechian revelam-nos a consciência humana através de uma dupla cumplicidade, simbiose cinematográfica Imagem/Som que permite explorar a simbiose Homem/Natureza.


Terça-Feira, 31 de Maio, 13H30

JEAN- LUC GODARD

JLG por JLG “JLG/JLG” (1995) 53 minutos

Auto-retrato em que através de citações de filmes, comentários ou silêncios, Jean-Luc Godard oferece as suas memórias, a sua intimidade, a sua compreensão do mundo.

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